O home office vai acabar?

O teletrabalho ou home office parece estar com os dias contados – mas será que vai acabar totalmente? Veja como está o mercado de trabalho!

Hoje existe uma percepção mundial de que a pandemia de Covid-19, na prática, já acabou, e que logo mais ela será, oficialmente, declarada como extinta pelos principais órgãos reguladores sanitários e de saúde, notadamente a OMS.

O trabalho, compreendendo todos os meios e setores de produção, comércio e serviços, durante os períodos mais agudos da pandemia e em toda parte do mundo, sofreu um impacto violento com as medidas de isolamento social, adotadas para combater a circulação do vírus e reduzir as infecções pela doença.

O trabalho remoto foi adotado por necessidade imperiosa, urgente, mesmo naquelas organizações em que pouco ou quase nada estava preparado para essa migração de modelo produtivo.

Todos foram pegos de surpresa, patrões e empregados.

E muito se fez pela tentativa de equacionar da melhor forma uma nova dinâmica de relação do trabalho em que o profissional teria de trabalhar em sua casa e manter o vínculo estreito com a empresa, garantindo o máximo de produtividade possível. 

Obviamente, alguns setores econômicos e produtivos foram mais duramente castigados pela pandemia, em razão das particularidades do negócio exigirem uma alta porcentagem de seu contingente de força de trabalho presente no chão de fábrica, com a “mão na massa”, no trabalho produtivo absolutamente presencial.

Pequenas e médias indústrias foram duramente castigadas durante a pandemia.  

Outros setores, no entanto, puderam migrar grande parte de sua força de trabalho para o modelo home office, e assim garantir a continuidade dos seus projetos, adaptando a interação entre as áreas e equipes de trabalho através de recursos tecnológicos de comunicação remota. 

Dessa forma, uma das heranças deixadas pela pandemia ao mercado de trabalho foi a implantação massiva do trabalho remoto, o chamado home office, adotado principalmente por empresas que contam com quadros funcionais muito variados, assim como sistemas de informação e de análise de dados que permitem a integração entre as diversas áreas e o trabalho colaborativo dos colegas, em tempo real e à distância.

O que dizem os empregadores sobre o home office?

Trânsito intenso de veículos em horário de pico

O fato é que, passados pouco mais de 03 anos da eclosão da pandemia, a herança pandêmica do trabalho remoto tem sido motivo de muitas discussões sobre os prós e contras das relações de trabalho.

Dentre as questões que mais suscitam análises e comparações entre o modelo home office e o método presencial de trabalho, ou seja, o modelo tradicional de se trabalhar dentro da empresa x horas por dia, que predominava em todos os setores da economia antes da pandemia de Covid-19, a perda de produtividade, o afastamento da cultura da empresa e a  falta de engajamento ou comprometimento são as que mais preocupam o empresariado.   

No centro dessa celeuma está a questão que mais importa: a produtividade.

Donos de empresas e executivos de alto escalão têm a percepção de que a produtividade individual e coletiva sofrem queda considerável quando parte dos profissionais não estão ali, in loco,  trabalhando dentro da empresa.

Aos olhos dos donos dos negócios, o vazio em mesas e cadeiras, a falta do relacionamento interpessoal, do olho no olho, do chamado tete a tete para o tratamento de assuntos relacionados às atividades que cada profissional desempenha, configura um certo alheamento socioprofissional que faz mal à imagem da marca, dificulta a integração do profissional à cultura organizacional e desperdiça o potencial produtivo justamente pela ausência.

E o que dizem os empregados sobre o trabalho remoto?

Do ponto de vista do proletariado, seja quais forem os pesos hierárquicos e atribuições dos cargos, a normatização do modelo de trabalho remoto, mantido parcialmente após a pandemia, no chamado modelo de trabalho híbrido, ou seja, quando o trabalho é executado em parte dentro da empresa e em parte à distância, geralmente da casa do profissional ou de um coworking, por exemplo, representa um avanço das relações do trabalho que veio para ficar e que não pode sofrer retrocesso.

Isso significa que o trabalho remoto foi amplamente aprovado pelos trabalhadores, de tal modo que hoje muitas contratações levam em consideração a possibilidade do trabalho ser feito totalmente à distância ou no modelo híbrido.

Em algumas classes profissionais é comum o candidato recusar uma vaga de emprego que não ofereça ao menos trabalho híbrido.

Para o empregado, o trabalho remoto ou híbrido trouxe a percepção de é importante que haja, na correria do dia a dia, tempo para conciliar o trabalho e a resolução de assuntos pessoais e de família.

Ao contrário do que muitos podem pensar, sob o olhar do trabalhador, essa conciliação não afeta a produtividade, e sim mais estimula no alcance das metas propostas pela empresa.   

O inverso também é verdadeiro, pois há setores que sofreram muito durante os períodos críticos da pandemia.

Isso fez com que um grande número de trabalhadores fosse dispensado de seus postos de trabalho ao mesmo tempo, o que fez engrossar a fila do desemprego. 

Nesses casos, para o profissional o que realmente importa é ser recolocado no mercado de trabalho o quanto antes, não importando se o trabalho é 100% presencial.

Aliás, para trabalhadores de alguns setores produtivos o trabalho remoto representa até uma ameaça, uma vez que ele pode exigir algumas competências para as quais nem todos estão aptos.

De uma maneira geral, excetuando-se as particularidades de cada setor produtivo, seja na indústria, comércio, serviços ou terceiro setor, podemos constatar, após três anos de pandemia, que o trabalho remoto “full time” é ruim aos olhos do patrão e ótimo para a maioria dos empregados.

O meio termo, o trabalho híbrido, ajusta esta equação e parece contar com uma longevidade perene para esses tempos modernos. 

Número de vagas de trabalho remoto cai cada vez mais

O que se vê hoje no mercado de trabalho é uma relatividade muito clara de opiniões sobre os efeitos positivos e negativos do trabalho remoto para a economia mundial.

Então, vimos que as percepções de patrões e empregados não são as mesmas sobre os benefícios desse modelo de trabalho, e que o modelo híbrido é o que tende a prevalecer por muito tempo.  

O sonho do trabalho em casa vem sendo desfeito, gradativamente, à medida que o efeito pandêmico do distanciamento social perde sentido.

Tanto melhor, pois o que mais importa  para a humanidade é ter o vírus sob controle e quiçá, em breve, a doença Covid-19 erradica.

Segundo dados de pesquisas de empresas respeitadíssimas que promovem recrutamento de pessoal e gestão de carreiras profissionais, a percentagem de anúncios de vagas que incluem condições como “trabalho 100% em home office” vêm caindo drasticamente semestre a semestre.

Para se ter uma ideia, a plataforma LinkedIn informa que, em fevereiro de 2022, o número de ofertas de vagas publicadas para trabalho remoto beirava a casa de 40%.

Um ano depois, em fevereiro de 2023, a percentagem de vagas para esse modelo de trabalho caiu para 25%. Essa tendência deve permanecer, pelo menos pelos próximos anos.

Em outro estudo, desenvolvido pela Consultoria Robert Half, verificou-se que dos profissionais que estão empregados, 57% deles se dispõem a prospectar um novo trabalho caso a empresa defina o retorno ao trabalho 100% presencial.

Nesse rol encontram-se, em sua grande maioria, profissionais que atualmente trabalham no regime híbrido.

As pesquisas feitas por empresas especializadas em recrutamento e seleção de pessoal, assessment e transição de carreira, demonstram que os empregadores estão inclinados a manter o pessoal dentro das empresas, diminuindo o tempo de trabalho feito em home office.

E os empregados sentem-se mais motivados a trabalhar em casa ou num regime híbrido. 

O que está em jogo é a produtividade. Os donos de empresas e executivos de alto escalão precisam mensurar, efetivamente, o quanto se ganha e o quanto se perde em produtividade em cada modelo de trabalho: presencial, híbrido e remoto.

E essa análise deve ser criteriosa e levar em conta vários fatores peculiares ao negócio da empresa.

Tudo deve entrar na conta: despesas e custos com infraestrutura, alimentação, transporte, locação imobiliária, benefícios e outros componentes que pesam no caixa da empresa, para se encontrar o melhor custo x benefício para a correta distribuição dos postos de trabalho, balanceando-os entre presenciais, híbridos e remotos.

E isso varia muito de setor para setor e de empresa para empresa.

As opiniões de CEOs sobre o home office

Uma matéria do Estadão traz os resultados de questionamentos feitos a donos de grandes empresas, principalmente big techs, sobre a percepção que eles têm sobre o trabalho remoto, e quão impactante para o negócio foi a manutenção desse modelo na pós-pandemia.

Pelas palavras dos próprios “big boss” podemos concluir para onde caminha o home office:

Em nossa análise inicial, que vai demandar ainda mais estudos, percebemos que tanto engenheiros que começaram a trabalhar conosco de maneira presencial e depois foram para o modelo remoto quanto os que se mantiveram no escritório tiveram melhores performances em relação aos que iniciaram a jornada de maneira remota.

Mark Zuckerberg – Meta (Facebook / Instagram / WhatsApp)

O J P Morgan encerrou, em definitivo, o regime de trabalho híbrido para os executivos administrativos.

Nossos líderes desempenham um papel crítico no reforço de nossa cultura e na administração de nossos negócios. 

Eles devem estar visíveis no local, devem se reunir com os clientes, precisam ensinar e aconselhar e devem estar sempre acessíveis para feedback imediato e mensagens improvisadas.

Banco J P Morgan em comunicado enviado, por e-mail, aos empregados

Mais de 95% das empresas para quem a gente recruta trabalha com o modelo híbrido, com exceção daquelas funções que efetivamente as pessoas precisam exercer presencialmente. Então, nos parece que o caminho vai continuar sendo esse.

Muitos chefes não se sentem confortáveis com a gestão à distância, seja por insegurança em relação à tecnologia necessária ou até mesmo porque não se sentem confiantes de que o time vai efetivamente trabalhar e respeitar o horário.

Muitas companhias reduziram o espaço que tinham, por exemplo, na Faria Lima, que saíram de dois andares e se mantiveram com apenas um.” Para o executivo, as empresas precisam encontrar o equilíbrio.

Ter pedidos de demissão porque a pessoa não está satisfeita (por conta do deslocamento ao trabalho, por exemplo) torna-se uma dor de cabeça gigantesca. O maior custo dentro de uma empresa é não ter a pessoa certa na cadeira certa.

Lucas Oggiam – Page Group

Donos de outras empresas gigantes nos mercados onde atuam também se manifestaram sobre a questão do trabalho remoto.

Elon Musk, dono da Tesla, SpaceX e Twitter, assim que comprou essa última empresa, após um processo de demissão em massa, encerrou completamente o trabalho remoto.

Isso também valeu para a Tesla.

Então, os empregados do Twitter e da montadora, gostando ou não da nova determinação, tiveram de se apresentar para o trabalho presencial em suas respectivas sedes.

Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos, teria admitido que o trabalho remoto havia prejudicado o desempenho da empresa.

Além disso, a estrutura organizacional havia tido um “inchaço” pelo excesso de contratações para postos home office.

Qual o modelo de trabalho ideal?

A pedido do Estadão, as Consultorias PageGroup e Robert Half contribuíram com algumas sugestões para que a empresa decida qual modelo de trabalho é mais adequado ao seu negócio: presencial, híbrido ou remoto.  

Alguns fatores são cruciais para se encontrar o melhor método de trabalho:

  1. Deve-se entender o negócio da empresa, a sua cultura, o seu objetivo e o seu mercado de atuação. A partir daí verificar o que cabe dentro dela entre os trabalhos presencial, híbrido e remoto
  2. Quem são os clientes externos? É preciso compreender o que o público-alvo da empresa espera dela em termos de atendimento. O que pode ser feito para atender o cliente, com a maior qualidade possível, presencialmente, de forma híbrida ou remotamente?
  3. Quem são os clientes internos? O que os empregados esperam da empresa para poder desempenhar as suas funções com a maior produtividade possível? Pesquisas internas auxiliam na identificação de expectativas, assim como entrevistas de admissão e desligamento. Quais cargos podem ter aderência ao trabalho remoto ou híbrido? E quais cargos são essencialmente presenciais?
  4. Onde está a empresa? Fatores como distância de casa ao trabalho, localização da empresa, meios de acesso e infraestrutura impactam, positiva ou negativamente, em cada  modelo de trabalho.  
  5. Quais modelos de trabalho têm sido adotados pela concorrência? É preciso olhar para o mercado e perceber as tendências do setor. Não adianta, por exemplo, comparar a percentagem de trabalho remoto de uma empresa de tecnologia da informação com o de uma fábrica de peças industriais. O bom senso deve prevalecer na distribuição dos cargos remotos, híbridos e presenciais.
  6. Para completar, segundo o gerente Leonardo Bento, da Consultoria Robert Half, a empresa precisa fazer uma matriz de risco para avaliar as vantagens e desvantagens de cada modelo de trabalho, atrelando-os ao negócio, aos objetivos, e ao perfil do quadro funcional. E ser flexível conforme as demandas do setor. Conforme diz Leonardo: “A flexibilidade é essencial para garantir a competitividade da empresa”.

Créditos das imagens: Freepik.

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